terça-feira, 19 de outubro de 2010

Desenhando sons

Gente, hoje temos um convidado especial que trabalha com um elemento fundamental do livro infantil: a ilustração. E ele vai falar um pouquinho sobre o papel do ilustrador pra gente. Com vocês Eduardo Bordoni, que gentilmente criou uma ilustração para o nosso blog! Chique, né?








Oi, Pessoal. Eu não sou o André e muito menos a Ana, e claro, estou aqui convidado por eles. Não que nossa longa amizade não permita uma incursão menos formal, meio que de penetra mesmo, mas não é o caso. Até porque vocês leitores não me conhecem.  Então vou me apresentar: eu sou um ilustrador. E estou atendendo a um pedido dos meus amigos queridos para falar de ilustrações. Mas não me entendam mal. Não sou e nem quero parecer um professor aqui. Assim como o Andre e a Ana quero apenas compartilhar minhas opiniões, abrir um diálogo e despertar o interesse para algo que amo muito.  Então, vamos ao tema.

Quando penso na relação que há entre o texto de um livro e suas ilustrações, de imediato me vem uma frase à mente:
Escrever é como desenhar sons.
A primeira vez que ouvi essa frase achei genial. Primeiro porque penso que faz todo o sentido, apesar de não ser óbvio. E, segundo, porque eu sou um ilustrador, um desenhista, e obviamente que a frase colocou em mim aquela fagulha de filosofar sobre a questão das imagens como contos a serem lidos, e das letras e palavras como imagens a serem percebidas com o encantamento de uma ilustração.
E sinceramente, eu penso que é assim que as crianças enxergam os livros: tudo é um desenho só. Um passaporte em forma e cor, que transporta e contribui para consolidar, para formar na imaginação da criança um sonho palpável. Quase uma realidade, que se torna inesquecível, com seus sons, cheiros e emoções visíveis apenas para a criança, ou o leitor. Ou seja, o ilustrador faz a imagem, mas quem a concretiza é o leitor.
E é justamente aí, nessa materialização do sonho para a criança, que se encontra o guiar dos pais ao adquirir um livro ilustrado. Principalmente para os pequenos leitores.
Hoje em dia todos nós somos cercados por uma poluição visual constante. Quase tudo que é destinado ao público infantil é derivado de cartoons, séries de tv e gibis, gerando um produção de arte, de ilustrações, que são como padrões, carimbos a serem usados em tudo: canecas, lençóis, papéis de embrulho e , claro, livros.
E é justamente esse caminho — penso eu— que deve ser evitado ao se comprar um livro ilustrado para uma criança que está começando sua jornada de leitor. Evitem as cores chapadas e os traços ingênuos. Procurem aqueles livros que propiciem na criança um caminhar pela imagem, onde a cada nova espiada algo novo possa aparecer, algo que ela não percebeu antes, algo que a faça desenhar mentalmente, a sua maneira, aquilo que também foi desenhado à maneira do ilustrador.
Como diz o ilustrador Rui de Oliveira em seu livro Pelos Jardins Boboli- Reflexões Sobre a Arte de Ilustrar: “... o primeiro elo que desperta nosso olhar e transfere a ilustração para nossa memória é um sentimento vago, impreciso, que podemos chamar de encantamento, uma qualidade que tem a imagem de nos apaziguar, mesmo que nos inquiete.”

Aproveitando, sugiro para os pais dos pequenos a leitura dos seguintes livros: Pelos Jardins Boboli - Reflexões Sobre a Arte de Ilustrar, Ed. Nova Fronteira e O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil - com a palavra o ilustrador, Ed. DCL.

E, paras os pequenos, não vou citar os livros, tarefa que deixo para o André e a Ana, mas digo os ilustradores que admiro e recomendo: Rui de Oliveira, Roger Mello, Odilon Moraes, Nelson Cruz e Renato Alarcão. E os estrangeiros Kveta Pacovská, Wolf Erlbruch, Shaun Tan, Pablo Bernasconi e Lane Smith.

É isso, pessoal. Divirtam-se. Um abraço a todos.

Eduardo Bordoni

 







Um comentário:

  1. Eduardo, parabéns pelos ótimos texto e ilustração! André, Ana, parabéns pelo colaborador! :D

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